Na metade dos anos 50 e até o final da década de 70 os concursos de miss eram a terceira preferência dos brasileiros entre os eventos anuais mais aguardados e comentados. Só perdiam para o futebol e o Carnaval. A vencedora ou qualquer outra candidata que conseguisse, no mínimo, figurar no Top 3 do Miss Brasil, entraria para sempre na história dos concursos de beleza. Foi o que aconteceu com Jane Vieira Macambira (1953/2010) ao conseguir em 1972 o terceiro lugar no Miss Brasil representando o extinto Estado da Guanabara. Esse preâmbulo sobre a morena natural de Santos, mas criada brincando nas ruas e no Boulevard de Vila Isabel, é para anunciar aos missólogos que ela se despediu do Mundo Miss e se juntou lá no firmamento às suas companheiras do Top 3, Maria Ângela Favi, Miss São Paulo, 2a colocada, e Rejane Vieira Costa, do Rio Grande do Sul, eleita Brasil.
Jane Macambira, Christine Clark, Linda Hooks, Yolanda Dominguez e Lindsay Bloom (Foto: Divulgação)
Ângela Favi que era de Araçatuba, morreu em junho de 2004; e Rejane Vieira, gaúcha de Cachoeira do Sul, mas residente em Pelotas, partiu em dezembro de 2013. Assim, Jane é mais uma miss que está em outra morada desde 2010, mas que só agora a noticia da sua morte chega ao conhecimento dos fiéis seguidores do Mundo Miss. A jovem que representou o bairro dos notáveis sambistas e poetas Noel Rosas, Martinho da Vila e Clementina de Jesus, que era uma ferrenha torcedora do Clube de Regatas Vasco da Gama e uma assídua frequentadora dos jogos do seu time no Maracanã, desfilou todo o “feitiço da vila”, conquistando também as passarelas internacionais. Até porque, além de brilhar duas vezes no Maracanãzinho justamente no ano em que esse equipamento cultural- esportivo deixou de ser o “templo sagrado” da beleza da mulher brasileira encerrando a época de ouro e o glamour dos concursos de miss, foi a quarta colocada no Miss Beleza Internacional, no Japão, e venceu o Miss Intercontinental na Alemanha.
Jane era um feitiço da vila (Foto: O Cruzeiro)
Antes, a paulista de nascimento e carioca de adoção venceu na adolescência o concurso Senhorita Rio. Na época, 1970, teve sua beleza retratada e imortalizada num imenso quadro pintado pelo artista plástico Luiz Jasmim, que lhes presenteou a obra no Programa do Chacrinha, líder de audiência da televisão brasileira. Todavia, poucos sabem, mas um dos responsáveis pelo sucesso e empatia que Jane Macambira conseguiu transmitir ao desfilar no Maracanãzinho, conquistando plateia e os jurados, tem nome e sobrenome: o famoso cabeleireiro Silvinho do Salão Jambert. Silvinho era jurado do Programa do Chacrinha onde a conheceu nos bastidores. Como ele integrava a equipe responsável pelos penteados e maquiagem do Miss Guababara e Brasil, deu algumas dicas.
Ângela Favi, Rejane Vieira e Jane Macambira (Foto: Manchete)
Orientou a Miss Vila Isabel ao desfilar descer de lado os degraus de acesso a passarela e estreitar um dos ombros como se um dos braços fosse mais curto. Fez escola. O sucesso foi tanto que nos anos seguintes muitas candidatas em vários concurso treinaram bastante tentando copiar os gestos. Outra dica do couffier Silvinho para a pupila foi sorrir apertando os lábios já que ela tinha os olhos pequenos. Dica de mestre só agora revelada graças a uma conversa bem antiga que o autor desse artigo teve com um grande amigo pernambucano do Silvinho do Jambert – o figurinista Paulo Carvalho. Jane Vieira Macambira viveu os últimos anos de vida dedicados à família, distante dos holofotes e da fama que tornaram ela numa das mais simpáticas carismáticas e antológicas misses brasileiras em todos os tempos.(Jornalista Muciolo Ferreira / março-2025)


