Fernando Machado

Parabéns, Núbia, Cristina e Cleodon!

Inauguração em 18 de maio de 1850 e projetado pelo engenheiro francês Louis Léger Vauthier o Teatro de Santa Isabel, representou a obra de maior vulto no projeto de modernização idealizado pelo governador Francisco do Rego Barros (Conde da Boa Vista). Para muitos é o mais belo teatro do império. No estilo neoclássico foi palco de grandes acontecimentos nas áreas política, social e cultural. O teatro recebeu esse nome em homenagem a Santa Isabel, Rainha de Portugal. Dom Pedro II e a Imperatriz Tereza Cristina pontificaram neste belíssimo e mau cuidada casa de espetáculos.

Cristina Amaral, Paulo de Castro e Cassiano Silva (Foto: Fernando Machado)

Ali se apresentaram, entre outros grandes nomes, o pianista Arthur Rubinstein e Claudio Arrau, o violinista Isaac Stern; dançaram as divas do balé Anna Pavlova e Margot Fonteyn. Não podemos esquecer a passagem de Carlos Gomes, das atrizes Fernanda Montenegro e Itália Fausta, dos primeiros Bailes de Máscaras, e da cena inesquecível de Castro Alves declamando uma poesia de sua autoria para seu grande amor a atriz Eugenia Câmara, além é claro dos discursos notáveis de Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa, Tobias Barreto e José Mariano.

Cristina Amaral interpretando Nubia Lafayette (Foto: Fernando Machado)

Pois bem foi nesse cenário deslumbrante que o projeto Janeiro dos Grandes Espetáculos, recebeu o show, e que show, Para Núbia, com Amor, Cristina. Posse dizer, sem medo de errar, um dos melhores que assisti nos últimos anos. Um espetáculo que me remeteu aos anos dourados da MPB. Tirer Le chapeau para ele. Uma noite de sofrência elegante. Obrigado Cleodon Coelho por ter feito uma homenagem tão marcante para Núbia Lafayette. Exatamente quando a cantora potiguar se fosse viva estaria fazendo 80 anos.

Etiene Barros, Jota Michiles, Nena Queiroga, Cristina Amaral, Romero Ferro e Hermila Guedes (Foto: Fernando Machado)

Obrigado, Cristina Amaral, que estava em grande noite num palazzo pijama de seda preta by Cassiano Silva e guarnecido por um fraque de veludo também preto by Beto Kelner, pelo seu talento em cantar musicas que marcaram a vida de Núbia Lafayette. Obrigado, Núbia (1937/2007), por você ter embalado tantos brasileiros com sua bela voz. Nubia pode ser incluída no time de Elizete Cardoso, Ângela Maria, Elis Regina, para citar apenas estas. Núbia influenciou muitas cantoras, quando lembraríamos Alcione.

O figurinista Paulo Carvalho cantou Núbia do começo ao fim (Foto: Fernando Machado)

Começou cantando “Esta noite / Eu queria que o mundo acabasse / E para o inferno o senhor me mandasse / Para pagar todos os pecados meus / Eu fiz sofrer a quem tanto me quis / Fiz de ti meu amor infeliz / Esta noite eu queria morrer / Perdão / Quantas vezes tu me perdoaste / Quanto pranto por mim derramastes / Hoje o remorso faz padecer / Esta é a noite da minha agonia / É a noite de minha tristeza / Por isso eu quero morrer”. Depois interpretou Mata-me Depressa, Vou Mudar desta rua, Desesperadamente.

Fabiane Cavalcanti e sua sobrinha Marcele Cavalcanti (Foto: Fernando Machado)

E quando Cristina Amaral cantou Seria tão diferente, surge no palco o ator e cantor José Barbosa. Sem sensacional quando em dueto cantaram “Seria tão diferente / se a gente que a gente gosta / gostasse um pouco da gente / Seria tão diferente / Se a gente que a gente gosta / sentisse o que a gente sente / se tudo o que a gente sente / a gente que a gente gosta / sentisse assim de repente”. Depois interpretou Chuvas de Verão e Carinho Perdido de Capiba. A plateia gritou viva Capiba!.

Ulysses Andrade e Cleodon Coelho (Foto: Fernando Machado)

Gostei muito quando Cristina cantou Raul Seixas e a cantora e bailarina Lilli Rocha, dançou e depois fizeram um dueto. Foi lindo demais. E ao interpretar Devolvi foi uma loucura total. Quando soltou a voz em Quem eu Quero não me Quer, um coral de cerca de 600 vozes respondia “Quem eu quero não me quer / Quem me quer mandei embora / É por isso eu já não sei / O que será de mim agora”. Foi um delírio total. Também ouvimos Casa e Comida, Eu te perdi por medo de perder-te, com o artista potiguar, por sinal muito bom, João Henrique Koering, e Surpresa.

Saulo Gouveia atuou bem nos bastidores (Foto: Fernando Machado)

A platéia estava ouriçada e cantou como se fosse a última canção de suas vidas, “Se quiser fumar eu fumo / Se quiser beber eu bebo / Não interessa a ninguém / Se o meu passado foi lama / Hoje quem me difama / Viveu na lama também / Comendo da minha comida / Bebendo a mesma bebida / Respirando o mesmo ar / E hoje, por ciúme / Ou por despeito / Acha-se com o direito / De querer me humilhar” E encerrou com “Relembro com saudade o nosso amor / O nosso último beijo e último abraço / Porque só me ficou da história triste desse amor / A história dolorosa de um fracasso. / Fracasso por te querer assim como eu quis / Fracasso por não saber fazer-te feliz”. E como diria os franceses: Au grand complet.

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