Fernando Machado

Juvenal e a Paquera na Quarentena!

Juvenal estava morando em uma cobertura agradável em frente à praia de Piedade, ao lado de Boa Viagem, no Recife e para apreciar os conteúdos dos biquinis que por ali desfilavam, comprou uma luneta. A vizinha, Dona Mercedes, uma viúva de uns 70 anos ou mais, parece desaprovar a compra, seja por ciúme, seja por inveja já que não estava entre as lunetáveis. Diariamente, ela cuida de suas plantas e parece que cuida também da vida do Juvenal, já que lança a ele, olhares famintos, mas demonstra uma certa irritação quando ele usa aquele objeto fálico que traz as gostosas da praia para perto dele.

A paquera parecia flagrante desde algum tempo, mas Juvenal, como a maioria dos “coroas”, gostava mesmo de novinhas. Só que nos tempos de coronavirus, após quase 50 dias de quarentena, Juvenal se sentia em estado de guerra e já começou a achar que a vizinha não era tão velha assim, era até bonitinha, cuidadosa no vestir e no pentear, deveria ser bem cheirosinha, coisas assim, sinal claro de que, como na guerra, o soldado tem as armas na mão e os testículos na cabeça.

Juvenal passou então a cumprimentá-la sorridente e com mesura, o que logo se transformou em um convite para “tumá café” que é como o pernambucano se refere à refeição da noite, em lugar do jantar. Convite aceito, Juvenal comprou cueca nova – ninguém sabe o que vai acontecer por lá – e uma “camisa de botão” para parecer menos boyzinho e mais comportado naquele compromisso. Para ser gentil, levou uns “biscuits sablés” ou biscoitos amanteigados e um pacote de chá inglês, mas não parava de pensar no que poderia vir após o café. Como ele repara em tudo, viu o tapete que ficava na entrada do apartamento com a inscrição “A Felicidade Mora Aqui”e não seria ele a incomodar aquele mantra.

Mercedes abriu a porta vestindo uma sainha curta, e uma blusa decotada que seria um estouro se ele tivesse uns 50 anos menos. A maquiagem era também desproporcional à idade, mas vá lá. Seu sorriso largo mostrava uma dentadura fabricada em algum artesão de gosto duvidoso e que Juvenal, pela distância entre seus terraços, não havia reparado. Ele não sabe o porquê, mas lembrou-se da sua juventude quando frequentava as “casas suspeitas” do Mangue, no Rio de Janeiro, ou a famosa “Casa Rosa” na Rua Alice, também no Rio. Mas como se sentia em guerra…

Ao entrar, Juvenal sentiu um odor de coisa velha, que poderia até ser do imóvel. Ou não. O apartamento, mesmo sendo de cobertura, era pequeno, com a geladeira na sala, exibindo um pinguim enorme. De repente aparece um gato – Juvenal tem forte alergia a gatos – que o deixou preocupado, mal sabendo que aquele era apenas o chefe de uma quadrilha de uns 8 gatos que iam aparecendo e aumentando o coral infernal de miados desafinados. A tudo, Mercedes ria, não escondendo a alegria de ter o Juvenal em sua casa. E conversa vai, conversa vem, cada um falando a respeito de suas vidas, até que, de repente, a velhota dá um gritinho seco e desmaia.

Juvenal entrou em pânico, chamou seu Euclides, o vizinho, que conhecendo o histórico de Mercedes, disse que não era nada demais e que isso acontecia toda vez que ela tinha fortes emoções. Aí o sr. Euclides pegou um pouco de vinagre e a fez cheirar. Rapidamente Mercedes abriu os olhos e com um sorriso largo falou com enorme carinho: Juvenal!!! Em tempo: Apenas para matar a curiosidade de quem ouvir esta história, Juvenal mudou-se na semana seguinte. O texto é do professor e consultor de Marketing Luiz Carlos Costa.

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