Domingo foi um dia de graça para mim. Revi de uma forma diferente o Chacrinha, agora como o musical. Lembrei da noite que fui assistir A Discoteca do Chacrinha, na TV Globo, que acontecia nas quartas-feiras. Era um festival de cores e de loucura. E o autor desta festa multicolorida era o pernambucano Chacrinha, ou Abelardo Barbosa (1917/1988). O melhor espetáculo que assisti este ano, foi sem dúvida, Chacrinha, O Musical. O ator Stepan Nercessian, reencarnou o Chacrinha.
Stephan Nercessian como Chacrinha (Foto: Caio Gallucci)
Parecia que eu estava vendo Abelardo Barbosa, no camarote do governador adorando o espetaculo. A Discota do Chacrinha começou em 1957, na TV Tupi. Depois fez um pit stop na TV Rio em 1968, aterrisou na TV Globo, onde permaneceu até 1972, por ter se desentendido com com o diretor de programação, Boni. Chacrinha tinha dois programas a Hora da Buzina, aos domingos e a Discoteca do Chacrinha, nas quartas-feiras. Quem não lembra este refrão: É hora, é hora, é hora da buzina. O programa que acaba quando termina.
Josildo Sá entre duas chacretes (Foto: Fernando Machado)
Ao sair da Globo retornou para Tupi e, na sequencia para Bandeirantes, e finalmente aterrisou na TV Globo, reunificando a Hora da Buzina e a Discoteca do Chacrinha, que se transformou no Cassino do Chacrinha, que estreou no dia 6 de março de 1982. O último programa foi gravado e exibido em 2 de julho de 1988. Chacrinha faleceu dois dias antes, vítima de câncer do pulmão. Foi o autor da célebre frase: Na televisão, nada se cria, tudo se copia. Era chamado de Velho Guerreiro, graças a Gilberto Gil, que compôs Aquele Abraço.
Um click da primeira parte do espetáculo (Foto: Fernando Machado)
“O Rio de Janeiro continua lindo / O Rio de Janeiro continua sendo / O Rio de Janeiro, fevereiro e março / Alô, alô, Realengo / Aquele Abraço! / Alô torcida do Flamengo / Aquele abraço / Chacrinha continua / Balançando a pança / E buzinando a moça / E comandando a massa / E continua dando / As ordens no terreiro / Alô, alô, seu Chacrinha / Velho guerreiro / Alô, alô, Terezinha”. Puxa! Senti o Velho Guerreiro gritar no Teatro de Santa Isabel: Teresinha!, Vocês querem bacalhau?, Eu vim para confundir, não para explicar! e Quem não se comunica, se trumbica!.
Alexandre e Corina Oliveira, as chacretes e Chacrinha (Foto: Fernando Machado)
Agora vamos ao Chacrinha, o Musical, cujo texto é de Pedro Bial e Rodriguo Nogueira e direção de Andrucha Waddington. A primeira parte achei meio sem graça, onde conta a vida de Abelardo Barbosa, em Pernambuco. Um cenário mórbito, todavia na segunda parte era o verdadeiro Chacrinha em cena, com cenário tecnicolor. Até o publico interagiu, pois foi montado no palco do Santa Isabel, duas arquibancadas, onde ficaram os fãs do Chacrinha.
Christina Gondim, Isabela e Stênio Neiva Coelho (Foto: Fernando Machado)
Na Buzina do Chacrinha, Russo tentou várias pessoas para participarem como calouros, apenas dona Walderez, aliás o nome de uma chacrete, que Chacrinha criou esse refrão: Walderez, quem dança com ela uma vez fica freguês. E Walderez arrasou cantando o Hino de Pitombeiras, e claro Chacrinha não acionou a buzina. Muito boa a participação especial de Josildo Sá. O ator que interpretou Orlando Silva tinha um cheiro de malva, arretado. Quem não conheceu o cantor pensou que ele era da turma alegre.
Andre Brasileiro e Tadeu Gondim entre duas chacretes (Foto: Fernando Machado)
Também tivemos no palco Clara Nunes, Ultraje a Rigor, Titãs, Benito de Paula, Carmen Miranda, Elba Ramalho, Dercy Gonçalves, Wanderlea, Sidney Magal, Roberto Carlos, Ritchie e Ney Matogrosso que levou o público ao delírio. Stephan Nercessian está perfeito no papel. E sai do teatro cantando: “Abelardo Barbosa / Está com tudo e não está prosa / Menino levado da breca / Chacrinha faz chacrinha / Na buzina e discoteca / Ó Terezinha, ó Terezinha / é um barato o cassino do Chacrinha “.