O fosso institucional entre as polícias militar e civil se tornou mais largo e mais profundo depois do puxão de orelhas que o governador deu nos coronéis e nos comandantes dos batalhões da Polícia Militar, sexta-feira, durante solenidade de sanção do projeto que concede bônus anuais em dinheiro para os policiais, de acordo com a redução dos índices de homicídios, por conta dos aplausos dos delegados de polícia a cada estocada que Eduardo Campos dava nos militares.
Os coronéis saíram cabisbaixos, constrangidos e envergonhados do palácio e muitos não escondiam a revolta pelo fato de se consideraram enganados pela Secretaria de Defesa Social, pois teriam sido chamados para uma reunião com o governador, quando, na realidade, não havia reunião alguma, e sim uma solenidade para sanção de uma lei, com uma claque (termo utilizado na televisão para designar o grupo de pessoas encarregadas de aplaudir as cenas) composta de delegados.
Esse fosso dificilmente será diminuído, mesmo que o Governo reduza a diferença salarial entre as duas instituições. A crise se tornou pública com a divulgação das tabelas de salários, com os policiais civis ganhando o dobro dos PMs, desequilíbrio percebido nos salários de soldado a coronel e de agente a delegado. Esse tratamento salarial diferenciado compromete seriamente o trabalho de integração que o governo insiste em desenvolver entre as duas corporações policiais e o Corpo de Bombeiros.
Cópia do documento redigido pelos coronéis e endereçado ao comandante geral propondo a equiparação salarial não foi recebido pelo governador, que teria mandado entregar o ofício ao secretário Servilho Paiva, e isso frustrou mais ainda o comandante da PM, que, segundo fontes da corporação, vem enfrentando dificuldades no relacionamento com o secretário, tanto que tentou falar diretamente com o governador, mas não foi ouvido.
Fontes palaciandas dizem que depois da solenidade no Salão das Bandeiras, o governador chamou o comandante José Lopes ao gabinete para dizer-lhe que ele é o comandante e tinha que usar toda a sua autoridade para conter a tropa e punir os insubordinados. Os dois estavam em pé e enquanto falava, o governador tocava o peitoral do comandante com o polegar da mão direita. O comandante entrou e saiu calado.