Johnny Alf foi brisa suave e amiga em sua passagem solitária pelo mundo. Sua música embalou e embala os que têm o privilégio de curtir o belo e refletir sobre até onde a sensibilidade humana pode se aproximar da perfeição que muito poucos alcançam na vida. Precursor da bossa nova, criatura simples e grandiosa, deixa um rastro de belezas que batem forte nos que têm o privilégio de distinguir a virtuose. “Eu e a brisa”, por exemplo, se eterniza na musica popular brasileira com um charme que o viés do Jazz consagrou em todos os grandes instantes da bossa nova.
As luzes da Lagoa Rodrigo de Freitas ou da antiga Avenida Vieira Souto brilhavam mais no Rio de Janeiro que trago dentro de mim, quando Johnny Alf sentava em frente a um piano pelas bandas do Chico´s Bar entre outras catedrais da boemia inteligente.Em 1964 ele gravou Moça Flor que o Tamba Trio imortalizaria num belíssimo álbum de capa branca e um vinil negro e tão nobre quanto o compositor.
O grande artista Johnny Alf (Foto: Fábio Ghivelder-Divulgação)
Filho de uma empregada doméstica e de um cabo do Exército morto na revolução constitucionalista de 1932, ele teve educação musical a partir dos 9 anos graças ao interesse de uma família para a qual sua mãe trabalhava. Seus dados biográficos revelam o interesse imediato por Nat King Cole, George Gershwin e Cole Porter. Tudo a ver com os nomes que de fato fizeram a cabeça musical da bossa nova. Sua obra ou portfólio musical mostra que Johnny Alf manteve coerência e fidelidade linear ao estilo musical que adotou desde jovem. Hoje a morte o separou da música sua fiel companheira até o apagar da velha chama.
Se esse repórter pudesse exprimir algo em nome de uma geração que educou ouvidos e até formou valores graças ao virtuosismo de pessoas como Johnny Alf, diria agora a ele um muito obrigado por ter existido e por ter feito sua sensibilidade mexer fundo no âmago de corações por vezes indecifráveis. (Do jornalista Angelo Castelo Branco)