Maria de Lourdes Mendonça, Amílcar e Isabel Bezerra (Foto: Fernando Machado)
Música baiana e samba não tem vez no Baile da Saudade é o único que não é ofuscado pelos ritmos estrangeiros. Mais pernambucano,impossível. As fantasias brilham tanto que temos que usar óculos escuros seria uma boa. Suas evoluções somente não eclipsam os outros blocos líricos. E sexta-feira aconteceu nos salões do Náutico mais um promovido pelo Bloco da Saudade, leia-se a presidente Izabel Bezerra.
Claudia e Felipe Cabral de Melo (Foto: Fernando Machado)
Claro que é uma festa clássica para quem tem sensibilidade e bom gosto musical. O dancing lotado, sem dúvida, uma explosão de alegria, animação e tranquilidade que nos remete aos melhores carnavais de clubes do Recife onde o glamour era a peça chave. Os falsos modernos acham os blocos líricos caretas. São as vítimas do marketing imposto pelas mídias.
Bruno Vilela, Gil Peixoto e Ricardo Sales (Foto: Fernando Machado)
“Saudade, é isso que a gente sente / Saudade, é falta que faz a gente / Alguém que partiu / Alguém que morreu / Alguém que o coração não esqueceu / Podem tocar os clarins / As notas do prazer e da exaltação / Podem passar arlequins / Pierrots e colombinas no salão / Podem dançar e cantar / Não levam não, / A saudade do meu coração”, é exatamente nesse frevo de bloco de Aldemar Paiva que resume esse baile.
Os pierrôs na entrada do clube (Foto: Fernando Machado)
Dando as boas vindas aos foliões na frente no Clube Náutico Capibaribe estava a Turma de Palhaços Periquitos do Zumbi, formado por 20 pierrôs, tudo comandado pelo presidente Antônio José dos Santos. O bloco foi fundado por João de Deus Lopes (1920/2011), ou como era mais conhecido Joca Barbeiro, há 79 anos. E com a zuada gostosa de suas castanholas eles reverenciavam os que iam “aos tempos ideais do velho Raul Moraes”.
Claudia Cabral de Melo exibindo o bolo (Foto: Fernando Machado)
Coube a Claudia Cabral de Mello ser hostess da noite e comandar várias homenagens. Como o bloco comemora este ano 40 carnavais foram dadas placas alusivas da data para o compositor Getúlio Cavalcanti, às filhas de Raul Moraes, Inajá e Iraçira, além da neta Valéria. Também recebeu uma placa o empresário Luiz Moraes Mota, o famoso Ceará, do Arriegua.
Rejane e Evaldo Donato, Margarida e Chico Ferreira Lima (Foto: Fernando Machado)
Na sequencia entrou o Coral e a Banda de Pau e Corda do Bloco da Saudade sob a regência do maestro Bozó (Eweron de Souza) iniciaram a festa. E a primeira musica foi Valores do Passado de Edgar Moraes: Bloco das Flores, Andaluzas, Cartomantes / Camponeses, Apôis Fum / e o Bloco Um Dia Só / Os Corações Futuristas, Bobos em Folia / Pirilampos de Tejipió / A Flor da Magnólia Lira do Charmion, Sem Rival / Jacarandá, a Madeira da Fé / Crisântemos Se Tem Bote e Um Dia de Carnaval”.
Getúlio Cavalcanti e Rose (Foto: Fernando Machado)
E um coral de quatro mil vozes gritavam: “Pavão Dourado, Camelo de Ouro e Bebé / Os Queridos Batutas da Boa Vista / E os Turunas de São José / Príncipe dos Príncipes brilhou / Lira da Noite também vibrou / E o Bloco da Saudade, assim recorda tudo que passou.” E todos tinham razão para tal. E assim a noite foi passando com o toque do verdadeiro Carnaval do Recife desfilando pelos nossos olhos. Até a Lua Cheia se despedindo para dá vez a Quarto Minguante testemunhou que o Recife tem o melhor carnaval do Brasil.
As Moraes Inajá, Valéria e Iraçira (Foto: Fernando Machado)
Pelos salões circulavam bailarinas, pierrôs, apaches, freiras, baianas, espanholas, palhaços, lordes, fadas, anjos, arlequins, colombinas, padres e cangaceiros, cantarolando Vejo o Recife prateado / À luz da lua que surgiu / Há um poema aos namorados / No céu e nas águas dos rios / Um seresteiro, um violão / Anunciando o amanhecer / Um sino ao longe a badalar / Recife inteiro vai render /Ave Maria ao pé do altar / Bumba-meu-boi, Maracatu / Recife dos meus carnavais / Não vejo mais sinhá mocinha / Á luz de um lampião de gás / És primavera dos amores / Do horizonte és arrebol / Vai madrugada serena / Traz delirante poema / Recife manhã de sol”, de Jota Michiles.
June Mattoso by Almir da Paixão (Foto: Fernando Machado)
Depois ouvimos o Bom Sebastião de Getulio Cavalcanti: “Quem conheceu Sebastião / De paletó na mão / E aquele seu chapéu / Por certo está comigo crendo / Que ele está fazendo carnaval no Céu / Maracatu de Dona Santa / Nunca mais encanta / Ele já se foi / Cadê o seu frevar dolente / Ai!.. Adeus, adeus Emília” / Eu vou prá Brasília, / Ele assim falou “Meu carnaval vai ser bacana” / Com a Mariana ele comentou / Por fim chegou a Manuela / Ele disse é ela / Minha inspiração / E assim cercado de carinho / Disse adeus sozinho / O bom Sebastião”.
Lea Lucas (Foto: Fernando Machado)
E será que o grande Nelson Ferreira seria lembrado e foi com sua Evocação Nº 1: Felinto, pedro salgado, guilherme, fenelon / Cadê teus blocos famosos / Bloco das flores, andaluzas, pirilampos, apôs-fum / Dos carnavais saudosos / Na alta madrugada /O coro entoava / Do bloco a marcha-regresso / E era o sucesso dos tempos ideais / Do velho Raul Moraes / Adeus adeus minha gente / Que já cantamos bastante / E Recife adormecia / Ficava a sonhar / Ao som da triste melodia”.
Luiz Moraes Mota, o Ceará (Foto: Fernando Machado)
Também tivemos Luiz Bandeira com seu Voltei Recife: Voltei, Recife Foi a saudade que me trouxe pelo braço / Quero ver novamente “Vassoura” na rua abafando / Tomar umas e outras e cair no passo / Cadê “Toureiros”? / Cadê “Bola de Ouro”? / As “pás”, os “lenhadores” O “Bloco Batutas de São José”? / Quero sentir a embriaguês do frevo / Que entra na cabeça depois toma o corpo e acaba no pé”.
Ney Araújo, Socorrinho Cardoso e Expedito Baracho (Foto: Fernando Machado)
E entre tantas pérolas do frevo-canção encerro com outro notável tricolor: Capiba. Com “Você diz que ela é bela, / Ela é bela, sim senhor. / Porém poderia ser mais bela /Se ela tivesse o meu amor. / Bela é toda natureza, oh! bela, / Bela é tudo que é belo. / O perfume de uma rosa, / O sorriso da criança, / O que fica na lembrança. / Bela é ver o passarinho, oh! / bela, / Indo em busca do seu ninho, oh! bela. / Todo mundo se amando / Com amor e com carinho / Uns chorando e outros sorrindo de amor”.
O salão no inicio do Baile da Saudade (Foto: Fernando Machado)