Fernando Machado

Viva, Mauro Mota!

Eu tive a honra de conhecê-lo pessoalmente. Aos sábados participava dos almoços que ele e Marly ofereciam na sua residência de Casa Amarela. Nunca esqueço o cardápio de se comer de joelhos e a conversa inteligente do centenário poeta pernambucano. E para homenageá-lo pincei alguns trechos do belíssimo discurso proferido pelo seu filho, Eduardo, na homenagem que a Academia Pernambucana de Letras prestou ao notável Mauro Mota.

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O jovem e galã Mauro Mota (Fotos: Arquivo da familia Mota)

“Por onde anda o Poeta Mauro? Poetando talvez, brincando com as palavras, com o infinito, com o imprevisível. Haverá de existir em outras dimensões algo que poeticamente una os mortos aos meros mortais, pois a vida continua com a sua implacável brevidade, cada qual tecendo o seu tempo, a sua sina e seja qual for a misteriosa essência da alma, unidos haveremos de permanecer.”

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O poeta Mauro Mota

-De Nazaré da Mata, cidade da Mata Norte de Pernambuco, adocicada pelos seus canaviais, partiu o quase adolescente Mauro para muito além das margens do Rio Tracunhahém, dos ensinamentos da professora Marocas, das inesquecíveis lembranças municipais. Mauro fez-se no Recife, na sombra dos cajueiros em flor, na brisa dos rios, no verde do mar e chegou às Academias Pernambucana e Brasileira de Letras com a sua poesia na mão.

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Marly e Mauro Mota

E continua: “Um poeta que teve a morte “a chave de sua grandeza, que nos deixou uma obra de muitas lembranças. Uma obra lírica, de excepcional beleza, que perdurará enquanto durar a língua que falamos”, como disse Josué Montello. Mauro foi eleito para esta Academia em 21 de junho de 1955, difícil resumir a sua passagem pelo solar do Barão Rodrigues Mendes, como presidente, por mais de um decênio, foi dedicadíssimo, numa época que esta casa foi considerada uma das academias mais atuantes do país.”

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Bi-imortal Mauro Mota

E Eduardo nos relembra “Mauro foi um pai extremoso, amigo de seus filhos, em época que era comum uma educação rígida e distante, ele nunca permitiu ser tratado por senhor, dizia que distanciava as pessoas,” assim como “Tinha uma presença de espírito impressionante, brincava até com a sua própria hipocondria. O seu bom humor foi conservado até o dia de sua morte, praticamente moribundo recebeu no hospital a visita de um conhecido que silenciosamente sentou-se ao seu lado, permanecendo calado por alguns momentos, de supetão o visitante perguntou: Dr. Mauro esse hospital é muito bom, não é? E o Mauro, já ofegante, com um ar de riso respondeu: para os visitantes, para os visitantes.”

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Mauro Mota de Nazaré da Mata para o Brasil

Encerro esse tributo do filho com esse trecho: “Nesse agosto de ventos e saudades, no centenário de nascimento do poeta Mauro, sinto os seus passos percorrendo o chão desta casa que foi sua, os seus gestos se recompondo e as palavras dos livros virando fala, o seu brilho continua a nos iluminar e no silencio do outro mundo imagino-o debruçado sobre uma mesa, enternecido, elaborando poemas, “A morte muitas vezes, junta mais do que separa os que foram dos que ficam”.

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