Fernando Machado

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Encontro de Blocos

Não fosse a Pandemia e hoje teríamos o Encontro de Blocos, no Marco Zero. Então vamos “Vou relembrar o passado / Do meu carnaval de fervor / Neste Recife afamado / De blocos forjados / de cor e esplendor / Na rua da Imperatriz / Eu era muito feliz, / Vendo o bloco desfilar”, de João Santiago. O Pierrô de São José sempre apresenta um desfile maravilhoso, com seus pastores vestidos à caráter.

Um time charmoso esse do Pierrô de São José (Foto: Fernando Machado)

Relembro o desfile de O Bonde, do Bloco da Saudade, como sempre lindo, cantando seu hino Valores do Passado de Edgard Moraes, “Bloco das Flores, Andaluzas, Cartomantes, / Camponeses, Apois Fum e o Blco de Um Dia Só, / Os corações Futuristas, Bobos em Folia, / Pirilampos de Tejipió, / A Flor da Magnólia, / E o Bloco da Saudade assim recorda / Tudo que passou”.

A gloriosa flabelista Juliana de Araujo Lima do Bloco da Saudade (Foto: Fernando Machado)

Não esquecer o Flor do Eucalipto, que homenageou Chiquinha Gonzaga e a saldou cantando: “Ó abre alas / Que eu quero passar / Ó abre alas / Que eu quero passar / Eu sou da Lira / Não posso negar / Eu sou da Lira / Não posso negar / Ó abre alas / Que eu quero passar / Ó abre alas / Que eu quero passar / Rosa de Ouro / É que vai ganhar / Rosa de Ouro / É que vai ganhar”.

O Flor do Eucalipto homenageou Chiquinha Gonzaga (Foto: Fernando Machado)

E surge o Bloco em Poesia cantando Capiba: “Recife, cidade lendária / De pretas de engenho cheirando a bangüê / Recife de velhos sobrados, compridos, escuros / Faz gosto se ver / Recife teus lindos jardins / Recebem a brisa que vem do alto mar / Recife teu céu tão bonito / Tem noites de lua pra gente cantar / Recife de cantadores / Vivendo da glória, em pleno terreiro / Recife dos maracatus / Dos tempos distantes de Pedro I / Responde ao que eu vou perguntar: / Que é feito dos teus lampiões? / Onde outrora os boêmios.”

As pastoras e o pastor de Um Bloco em Poesia (Foto: Fernando Machado)

Depois sobe ao palco o Bloco Eu Quero é Mais entoando de Alex Caldas: “Nós somos da Pitombeira / Nós brincamos muito mais / Se a turma não saísse / Não havia carnaval / Bate-bate com doce eu também quero / Também quero, também quero / Bate-bate com doce eu também quero / Também quero, também quero / Pitombeira só tem dez letras / E uma significação / Pitomba é fruta fresca / Se compra por qualquer tostão / Pitomba é fruta besta / Se compra por qualquer tostão”.

As pastoras do Eu Quero é Mais (Foto: Fernando Machado)

E por último o Bloco Flabelo Encantado que cantou Madeira que Cupim não Rói de Capiba: “Madeira do Rosarinho / Vem a cidade sua fama mostrar / E traz com seu pessoal / Seu estandarte tão original / Não vem pra fazer barulho / Vem só dizer… e com satisfação / Queiram ou não queiram os juízes / O nosso bloco é de fato campeão / E se aqui estamos, cantando esta canção / Viemos defender a nossa tradição / E dizer bem alto que a injustiça dói / Nós somos madeira de lei que cupim não rói”.

Lindas as pastoras do Flabelo Encantado (Foto: Fernando Machado)

Vamos Recordar o Passado

Como reza a tradição, relógio marcava 16h30, e o átrio da Matriz da Boa Vista, no final da Rua da Imperatriz, nos arredores da Praça Maciel Pinheiro, os 29 pastores e as 87 pastoras do Bloco da Saudade, e seus perseguidores começaram a procissão com destino ao Marco Zero, para o encontro dos Blocos Líricos. O Saudade surgiu em 1972, graças ao compositor Edgard Moraes quando compôs Valores do Passado. Então Edgard Moraes, Antonio José Medeiros e Marcelo Varela tiveram a ideia de criar o bloco e a partir de 1973 eles saíram pelas ruas do Recife.

As pastoras Lucia Cavalcanti e Isabel Bezerra (Foto: Fernando Machado)

E a Rua da Imperatriz, pobre de decoração, testemunhava mais uma vez o desfile do Bloco da Saudade., cuja presidente é Isabel Bezerra. Juro que vi nos sobrados, em estado de abandono, Joaquim Nabuco, EdgardRaul Moraes, Nelson Ferreira, Capiba, Luiz Bandeira, Antonio Maria, Romero Amorim, João Santiago, Aldemar Paiva, DináWaldemar de Oliveira, João e Raul Valença, José Menezes, Clarice Lispector, Dona Santa debruçados nas varandas aplaudindo os blocos líricos. Sonhar não custa nada.

Claudia Porpino e marido Felipe Cabral de Melo (Foto: Fernando Machado) 

Um coral com mais de mil vozes cantou o hino do bloco, Valores do Passado, de Edgard Moraes: “Bloco das Flores, Andaluzas, Cartomantes / Camponeses, Apôis Fum e o Bloco Um Dia Só / Os Corações Futuristas, Bobos em Folia / Pirilampos de Tejipió / A Flor da Magnólia / Lira do Charmion, Sem Rival / Jacarandá, a Madeira da Fé / Crisântemos Se Tem Bote e Um Dia de Carnaval / Pavão Dourado, Camelo de Ouro e Bebé / Os Queridos Batutas da Boa Vista / E os Turunas de São José / Príncipe dos Príncipes brilhou / Lira da Noite também vibrou / E o Bloco da Saudade, assim recorda tudo que passou”.

Marjones Pinheiro e sua mãe, Magdaleine, o carnavalesco Carlos Ivan e Eduardo Mendes (Foto: Fernando Machado)

Por coincidência o prédio onde morou Joaquim Nabuco, o Bloco da Saudade, cantou de Nelson Ferreira: Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon / Cadê teus blocos famosos / Bloco das flores, andaluzas, pirilampos, apôs-fum / Dos carnavais saudosos / Na alta madrugada / O coro entoava / Do bloco a marcha-regresso / E era o sucesso dos tempos ideais / Do velho Raul Moraes / Adeus adeus minha gente / Que já cantamos bastante / E Recife adormecia / Ficava a sonhar / Ao som da triste melodia”.

O Maestro Bozó regente da Orquestra de Pau e Corda (Foto: Fernando Machado)

Já estávamos o final da Rua da Imperatriz, quando surgiu João Santiago: “Vou relembrar o passado / Do meu carnaval de fervor / Neste Recife afamado / De blocos forjados / De cor e esplendor / Na Rua da Imperatriz / Eu era muito feliz, / Vendo o bloco desfilar / Escuta Apolônio o que eu vou relembrar / Os Camponeses, Camelo e Pavão / Bobos em Folia do Sebastião / Também Flor da Lira com seus violões / Impressionava com suas canções”.

As pastoras Tereza Lins que mora em Chicago e Marta Freitas Lins que reside em Maceió (Foto: Fernando Machado)

Quando chegaram ao Quartel General do Frevo, na Pracinha do Diário, o coral cantou bem alto de Capiba: Madeira do Rosarinho / Vem a cidade sua fama mostrar / E traz com seu pessoal / Seu estandarte tão original / Não vem pra fazer barulho / Vem só dizer… e com satisfação / Queiram ou não queiram os juízes / O nosso bloco é de fato campeão / E se aqui estamos, cantando esta canção / Viemos defender a nossa tradição / E dizer bem alto que a injustiça dói / Nós somos madeira de lei que cupim não rói”.

O pastor Claudemir Gomes (Foto: Fernando Machado)

Bloco da Saudade estava irrepreensível com seus componentes fantasiados de ciganos, criados pelo carnavalesco Carlos Ivan Vieira de Melo. Ali me despedi dos pastores e das pastoras, não aguentava mais a fedentina de urina, durante todo o percurso. E pensei para onde vão os IPTUs. O bloco seguiu em frente entoando de Nelson Ferreira e Aldemar Paiva, o Frevo da Saudade: Quem tem saudade não está sozinho / tem o carinho da recordação / por isso quando estou mais isolado / estou bem acompanhado / com você no coração”.

Ouçam como é linda o frevo-canção: https://www.youtube.com/watch?v=1WhssdniSek.

 

Confetes & Serpentinas

Graças a Deus o Carnaval do Recife tem ainda, os blocos líricos, senão nossa tradição estava destruída.  Quem tem o frevo, o maracatu, e o caboclinho não precisa importar ritmos estrangeiros. Somente para lembrar, o compositor Matias da Rocha (1864/1907), leia-se o hino do nosso Carnaval, Vassourinhas, nem sei se ainda é, nunca foi homenageado no nosso Carnaval. Fiquei emocionado ao ouvir, sábado, no desfile do Bola Preta, no Rio de Janeiro, Vassourinhas. Foi arretado.

Leonardo Dantas pensando no carnaval  do Recife (Foto: Mariana Dantas)

O carnavalesco e pesquisador Leonardo Dantas Silva escreveu no seu face: “Neste Carnaval de 2019, o frevo não teve vez no palco do Marco Zero, o espaço nobre foi cedido para grupos mais representativos do nosso Carnaval, a exemplo de Paralamas do Sucesso, Alcione, Monobloco, Leci Brandão, Jota Quest, Zezé Mota, Tony Tornado… — Segundo os que fazem à Prefeitura do Recife, sem eles não há Carnaval!”

Evoé, Evoé, Evoé!

Hoje, é a apoteose do Carnaval do Recife, tudo por conta do Encontro de Blocos Liricos que acontece a partir das 18h, no Marco Zero. Antes estarei, às 16h, na concentração do Bloco da Saudade, na Praça Maciel Pinheiro.

Pelo Gravatá Jazz Festival temos hoje a parti das 20h, o Quinteto Violado, Flenks com Amaro Freitas, Uptown Blues Band e os convidados Karl Dixon, Duca Belintani & Lancaster.

O cantor Alceu Valença se apresenta hoje, à noite, no Alto José do Pinho e amanhã, também à noite, no encerramento do Carnaval, no Marco Zero. Alceu é uma figura constante no Carnaval do Recife.