Recebo do compositor e jornalista Heleno Ramalho uma longa carta que escreveu na terça-feira de Carnaval de 2014. O que aconteceu “no Marco Zero e na Praça do Arsenal foi um atentado contra a sensibilidade cultural, porque atinge gravemente a música e a poesia do nosso carnaval. Na Segunda-feira, dia dos Blocos Lí­ricos, Madeira do Rosarinho foi barrado na entrada do palco porque teria chegado atrasado. No domingo à  noite, um maracatu de baque solto, de Nazaré da Mata, com cerca de 100 pessoas e muitas dificuldades, foi barrado na subida do Marco Zero, sob a mesma alegação”.

Apenas um pano preto enfeitava  o palco do Marco Zero, na segunda-feira dedicada aos Blocos Líricos. Atentem, pois tem um bloco desfilando (Foto: Heleno Ramalho)

– No Polo do Arsenal a ordem era para que cada bloco cantasse apenas duas músicas, diferente do Marco Zero onde são cantadas três. E por que? O show começa às 20 horas. É prioritário. Mas veio outra ordem: cantar apenas um frevo-de-bloco. Eu ia subir com Compositores e Foliões e disse a Socorrinho Cardoso: Vamos cantar as duas. Não sairemos do palco. Mas nos deixaram cantar os dois frevos. Eu também queria ver Amantes das Flores de Camaragibe. Não estava na relação do Marco Zero; estava na lista do Arsenal. Neste local foi dito que “não  está programado; vai passar aqui por baixo mesmo”. Este bloco despertou como um gigante. O competente Hamilton Florentino montou excelente orquestra e expressivo coral”.

O compositor Heleno Ramalho (Foto: Fernando Machado)

Depois soube que Amantes subiu no palco e cantou duas musicas. O povo não podia deixar de ver a agremiação.Teve bloco que esperou 50 minutos para subir no Arsenal, no caso o Bloco das Flores. No Marco Zero o show começaria às 21 horas, apenas a passagem do último bloco, o Flabelo Encantado. Pelo que lembro, em anos anteriores, este famigerado show começava às 22h. Esta pressa levou o Bloco das Ilusões a se apresentar antes das 17 horas. E logo depois o Cordas e Retalhos. Isto nunca aconteceu”.

Os pastores do bloco lírico Pão Duro (Foto: Fernando Machado)

Heleno dá uma dica: “No meu entender, os blocos não devem subir em palco antes das 18h. E até às 22 horas Marco Zero e Arsenal devem ser locais apenas de lirismo. Se não houver prioridade para os blocos na segunda-feira, só vejo uma saí­da: procurar alternativas fora do ciclo oficial e deixar o Marco Zero e o Arsenal”. E este ano a Secretaria  da Cultura do Recife, cujo nome este blog não escreve nem sob tortura, teve a ousadia de dizer no Aurora dos Carnavais que os Blocos Lí­ricos são fundamentais ao nosso Carnaval. Desse jeito?