Fernando Machado

Ademilde Miranda: A sacerdotisa do chique 

Hoje a figurinista faria 85 anos, se viva estivesse. Quis o destino levá-la antes. Falo de Ademilde Miranda, que nasceu em João Câmara (RN) no dia 26 de julho de 1933. Formada em Filosofia pela Fafire, foi uma figura humana notável. Mulher de muito estilo, Adê, desenhava e costurava muito bem. Foi batizada como a figurinista ecológica, quando ninguém ainda tinha essa consciência e conhecimento. Foi professora de etiqueta da Socila no Recife.

Ademilde Miranda uma profissional e tanto (Foto: Divulgação)

Como profissional, sempre usou renda natural, algodão e seda. Do alto dos 1,56m de altura era extremamente rigorosa. Viúva do arquiteto José Fernando Carvalho, não teve filhos. Deixou duas irmãs, Cleide que mora no Rio de Janeiro e Iracema que mora em São Paulo, além de três sobrinhas Hellidy, Nellidy e Lousanne. Adê era autodidata, desde criança desenhava seus próprios vestidos. Seu estilo modelagem era impressionante, sempre na vanguarda, às vezes causava impacto.

Ademilde sempre categorizada (Foto: Fernando Machado)

Certa vez foi homenageada pela diretora do Museu do Estado, Tereza Costa Rego, com uma retrospectiva de sua obra. Não preciso relembrar, mas repito: Foi um sucesso. Uma mulher à frente do seu tempo foi pioneira na política de ecologia. Despertou a curiosidade de Constanza Pascolato, grande crítica de moda, que veio de São Paulo, especialmente fazer uma reportagem com ela para a Revista CláudiaAdemilde Miranda está para a moda, assim como sua grande amiga Janete Costa estava para decoração de interiores.

Ademilde Miranda uma pessoa amiga dos amigos (Foto: Divulgação)

Certa vez, Janete confessou que aprendeu com ela criar ambientes. Falava Francês, e admirava a moda francesa. Era fã da pitonisa Diana Vreeland (1903/1989) e da figurinista norte-americana Mary McFadden. E recordando Diana, “Dinheiro ajuda a tomar café na cama. Estilo ajuda a descer uma escada.” Assim como sua Musa, Adê morreu praticamente cega. Era tão exigente que perdeu muitas amizades, mas nunca abriu mão de impor sua personalidade.

Adê merece um bis (Fotos: Divulgação)

Adorava a gastronomia francesa, mas tinha um xodó muito grande por picadinho de carne. Adorava champanhe, seu perfume predileto era o exclusivo Joy, de Jean Patou. Ela não tinha medo da morte, costurou uma túnica para ser enterrada com ela. E o seu maior amigo, o cerimonialista Carlos Henrique Barbosa, fez tudo como ela queria. Exigiu que não colocasse flores no caixão. Todavia deixou um pedido que Carlos Henrique executou: colocou sobre ela orquídeas fúcsias. As velas ele trouxe de Portugal eram também fúcsias. Assim partiu a última sacerdotisa do chique.

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