Fernando Machado

A aurora do Aurora dos Carnavais

Os pastores e pastoras do Amantes das Flores (Foto: Fernando Machado)

Existe nome mais romântico do que Rua da Aurora. E ele fica debruçada para o Rio Capibaribe. Pois foi num dos seus trechos que Romero Amorim (1938/2012), criou o Encontro de Blocos Líricos Aurora dos Carnavais, duas semanas antes do Carnaval de 1999. Desfilaram apenas três blocos: Cordas e Retalhos, Bloco das Flores e Flor da Vitória Régia que não existe mais. E na Meca do lirismo aconteceu domingo, o XVII Aurora dos Carnavais, agora tendo à frente Vena Souza, Tábita Cristina Fernandes, Adaury Junior, Carlos Germano, e Luiz Moneta.

Os maestros Amaro Samba 5 e Macaiba entre as pastoras do Damas e Valetes (Foto: Fernando Machado)

Para quem sabe, era nas ruas Nova e Imperatriz, que os blocos líricos desfilavam, mas os prefeitos do Recife a parti do governo do PT, resolveram acabar com essa tradição. Esse frevo-canção de João Santiago diz tudo isso: “Vou relembrar o passado / Do meu carnaval de fervor / Neste Recife afamado / De blocos forjados / De cor e esplendor / Na Rua da Imperatriz / Eu era muito feliz, / Vendo o bloco desfilar / Escuta Apolônio o que eu vou relembrar / Os Camponeses, Camelo e Pavão / Bobos em Folia do Sebastião / Também Flor da Lira com seus violões / Impressionava com suas canções”.

As pastoras do Bloco das Flores (Foto: Fernando Machado)

O sol estava chegava ao ocaso, e lua cheia surgia contrariando a musica que diz: Todos eles estão errados / A lua é dos Namorados. A lua era para os blocos líricos “Lua, oh lua / Querem te passar pra trás / Lua, oh lua / Querem te roubar a paz / Lua que no céu flutua / Lua que nos dá luar / Lua, oh lua / Não deixa ninguém te pisar”. Passava das 17h, quando o host Sérgio Gusmmão anunciou o primeiro bloco, dos 29, para subir na passarela, Queromaiszinho. Depois vieram Sonho e Fantasia, Bloco Flores do Paulista, Eu Quero é Mais.

Pastores e pastoras do Bloco das Ilusões (Foto: Fernando Machado)

Quando Confete e Serpentina subiu ao palco sacudindo o publico, estimado quase 20 mil pessoas, cantando o Bloco da Vitória de Nelson Ferreira: “O Bloco da Vitória está na rua / Desde que o dia raiou / Venha minha gente / Pro nosso cordão / Que a hora da virada chegou, ô ô ô ô / Quando o povo decide / Cair na frevança / Não há quem dê jeito / Aguenta o rojão / Fica sem comer / Mas no fim dá tudo ok / Neste carnaval / Quá quá quá quá / O prazer é gargalhar / E com bate bate de maracujá / A nossa vitória vamos festejar”.

As pastoras e pastores do Confetes e Serpentinas (Foto: Fernando Machado)

Depois vieram Seresteiros de Salgadinho, Flor do Eucalipto, Flores do Capibaribe, Bloco dos Artesões (que também causou ao cantar O Último Regresso de Getulio Cavalcanti): “Falam tanto que meu bloco está, / dando adeus pra nunca mais sair. / E depois que ele desfilar, / do seu povo vai se despedir. / Do regresso de não mais voltar, / suas pastoras vão pedir: / Não deixem não, que o bloco campeão, / guarde no peito a dor de não cantar. / Um bloco a mais é um sonho que se faz / o pastoril da vida singular. / É lindo ver o dia amanhecer, / ouvir ao longe pastorinhas mil, / dizendo bem, que o Recife tem, / o carnaval melhor do meu Brasil”.

Pastores e pastoras do Inocentes do Rosarinho (Foto: Fernando Machado)

Na sequencia o Flor da Lira de Olinda, Amantes das Flores de Camaragibe mexeu e como ao cantar Madeira que Cupim não Roi de Capiba: “Madeira do Rosarinho / Vem a cidade sua fama mostrar / E traz com seu pessoal / Seu estandarte tão original / Não vem pra fazer barulho / Vem só dizer… e com satisfação / Queiram ou não queiram os juízes / O nosso bloco é de fato campeão / E se aqui estamos, cantando esta canção / Viemos defender a nossa tradição / E dizer bem alto que a injustiça dói / Nós somos madeira de lei que cupim não rói”; Flabelo Encantado.

Severino Vila Nova entre as pastoras do Cordas e Retalhos (Foto: Fernando Machado)

E novamente os foliões foram à loucura quando Cordas e Retalhos cantou “Eu ando à procura de alguém / Que me queira bem / Mas que seja meu / Somente meu / E de mais ninguém / Quando isso acontecer / Eu nunca mais na vida / Hei de sofrer / Eu não quero um amor / Desses que vão e vêm / Quero um amor de verdade / Que me queira também”, do grande Capiba. Depois surgiu Damas e Valetes e logo depois Inocentes do Rosarinho.

Isabel Bezerra, Lucas Correia, a flabelista Gabriela Cavalcanti e a pastora do Bloco da Saudade (Foto: Fernando Machado)

Este bloco lírico me deixou emocionado quando cantou seu hino: “Vem conhecer o que é harmonia / Nesta canção / O “Inocentes” apresenta / Um Lindo panorama de folião / Nossos acordes fazem a mocidade / Ter alegria / E faz inveja a muita gente / Em ver o “Inocentes” como o rei da folia / Vem, meu bem / Alegria que o frevo contém / É a do meu coração / Vem pegar no meu braço / Vamos cair no passo sem alteração”.

Claudionor Germano e Carlos Germano (Foto: Fernando Machado)

De repente surge o Bloco da Saudade e ao cantar seu hino Valores do Passado de Edgard Moraes, o publico cantava como se fosse a última vez: “Bloco das Flores, Andaluzas, Cartomantes / Camponeses, Apôis Fum / e o Bloco Um Dia Só / Os Corações Futuristas, Bobos em Folia / Pirilampos de Tejipió / A Flor da Magnólia / Lira do Charmion, Sem Rival / Jacarandá, a Madeira da Fé / Crisântemos, Se Tem Bote e / Um Dia de Carnaval / … E o Bloco da Saudade, assim recorda tudo que passou.”

O compositor Heleno Ramalho, o maestro Ademir Araújo e o radialista Hugo Martins (Foto: Fernando Machado)

Já passava das 20h30, e tinha que voltar para fechar o blog, ainda pude aplaudir os blocos das Ilusões, cantando Chora Bandolim de Heleno Ramalho: “Chora bandolim / Chora violão / O meu coração / É assim… / Ah, linda pastora de voz tão macia / Canta meu verso minha melodia / Enquanto há tempo para se cantar / Ah, viver assim não é sonhar à toa / Eu faço parte dessa gente boa / Que ainda voa / Atrás de luar / Vê! O meu Recife se enfeitou demais”, e Um Bloco em Poesia.

Tábita Cristina Fernandes e o maestro Edson Rodrigues (Foto: Fernando Machado)

Ainda tinha escalado os blocos Utopia e Paixão, Compositores e Foliões, Folguedos de Surubim, Lira do Carpina, Com Você no Coração, Das Flores, Boêmios da Boa Vista, Sempre Feliz, Menestreis do Paulista, Esperança e Edite no Cordão. De longe ouvi juro que ouvi um bloco cantar: de Aldemar Paiva: “Saudade, é isso que a gente sente / Saudade, é falta que faz a gente / Alguém que partiu / Alguém que morreu / Alguém que o coração não esqueceu”.

Os integrantes do Flabelo Encantado (Foto: Fernando Machado)

Novamente Madame Min cometeu outro abuso de autoridade. Tinha um lugar especial para ela num cercadinho, mas ela fincou os pés e disse quero sentar aqui, o local era o da dispersão dos blocos, quando deixava o palanque. A coordenação mudou a saída dos blocos para satisfazer os caprichos da Secretaria de Cultura do Recife. E essa senhora ainda tem a ousadia de criticar o autoritarismo dos militares.

Ana Claudia Matos, Andréa Dória e Sandra Lyra Netto (Foto: Fernando Machado)

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