Fernando Machado

Um nome que a história guardou

Com qualquer tipo de notícia alegre ou triste, mas sobre a morte é demais, principalmente quando aquele que foi escolhido para a grande travessia é uma pessoa do meu referencial. O jornalista Ronildo Maia Leite era assim, um marco nas lembranças do início de minha carreira no Diário da Noite.

Mancheteiro de talento, toda tarde ele vibrava quando a sirene anunciava que estava pronta e acabada mais uma edição do vespertino recheada de notícias trabalhadas por sua equipe de jornalistas, dentre eles Ivan Maurício, Ricardo Leitão, Daura Lúcia, Marly Falcone, Rosalvo Melo, Olbiano Silveira, José do Patrocínio Oliveira, sem esquecer Esdras Bispo, Nilson Diocleciano, Zilda Emerenciano e Ernesto Renan que partiram antes do chefe Ronildo. Fiz parte dessa equipe o que muito me honra.

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O jornalista Ronildo Maia Leite (Foto: Reprodução do Diário de Pernambuco)

Com ele todos nós aprendemos a valorizar a notícia, colocando-a em primeiro lugar nem que para isso fosse necessário oferecer a cabeça a prêmio. Ronildo Maia Leite era assim: em primeiro lugar estava a palavra do seu repórter, um cumpridor de pauta na busca diária e incessante da informação.

Foi o que aconteceu comigo. Saí com a pauta na mão para descobrir quantos pacientes de determinado hospital público estavam aptos a fazer transplante de pulmão. Era o tempo em que falar sobre transplantes estava na “onda”, digamos assim. Fiz a matéria e ele, como bom tituleiro, caprichou na manchete. O Diári da Noite foi para a rua e eu quase ia com ele, mas, como sempre acontecia, Ronildo não deixou.

Nilson fez uma série de matérias sobre a exportação de cabeças para estudo lá fora; junto com Daura Lúcia denunciou também o bizu do vestibular; o Diário da Noite fez campanha contra o lançamento de dejetos nas águas do mar em Olinda, tudo sob a orientação do seu editor chefe, competente, criativo, tornando combativo e vigilante aquele veículo de comunicação sob sua batuta.

As câmaras municipais sofriam abalos sísmicos e muito gabinete ruiu sob o peso de suas denúncias. Lembro-me bem da manchete do Diário da Noite num sábado: “Tudo em ordem, presidente?”, impressa sobre uma foto única e gigante na primeira página do jornal, de um estudante jogando uma pedra na vidraça da janela de um prédio público em Brasília, na época da ditadura.

Foi advertido, mais uma vez, sobre a “gravidade” do seu ato, mas isso em vez de acomodá-lo esquentava ainda mais o sangue daquele que foi toda vida repórter.

Ronildo foi, de fato, a pessoa mais bem realizada na profissão que escolhera. Costumava dizer que se tivesse de começar tudo de novo seria repórter. Nas várias visitas que lhe fiz na sucursal do jornal O Globo pude constatar que continuava incendiário, principalmente na época de eleição. Era o primeiro a obter informações que só um profissional com sua habilidade conseguiria captar (ou capturar?).

Como editor do Jornal do Commercio das segundas-feiras comportou-se do mesmo jeito. Do mesmo modo como articulista brilhante do Diário de Pernambuco, onde tudo começou após sua chegada ao Recife, deixando para trás o Colégio Diocesano da sua cidade querida Garanhuns. Neste momento, reporto-me ao poeta Mauro Mota, que o acolheu no Diario, que diz numa de suas Elegias: “…morta a morte/levaste-a de vencida”. Segue em paz, querido companheiro. (Jornalista Ariadne Quintella)

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