Fernando Machado

A Noite dos Tambores Silenciosos

Nosso Carnaval é tão rico e ainda se contratam, a  peso de ouro, cantores estrangeiros. Alem do Encontro dos Blocos Líricos, outro momento lindo de machucar é a Noite dos Tambores Silenciosos que é uma cerimônia de origem africana reunindo nações de maracatus de baque-virado com a finalidade de louvar a Virgem do Rosário, padroeira dos negros, e reverenciar os saga africana, que sofreu durante a escravidão no Brasil Colonial.

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Dona Santa e Paulo Viana (Fotos: Divulgação)

Os ritos de reverência aos antepassados é um costume que os escravos trouxeram para o Brasil, como na cerimônia de Coroação do Congo, onde elegiam seus reis e rainhas, lamentavam seus mortos e pediam proteção aos Orixás. No Brasil, os negros privados de sua liberdade não podiam manifestar suas crenças e tradições. Realizavam então cortejos de lamentações às escondidas e em silêncio. Mesmo depois da abolição da escravatura, esse ritual continuou a ser realizado.

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Os batuqueiros e o babalorixá Jorge de Besson, responsáveis pela cerimônia (Fotos: Wagner Ramos)

Com o passar do tempo, todas as comunidades negras do Recife foram se agregando, é bom lembrar que evento sempre foi realizado às segundas-feiras, dia das almas nas religiões de origem africana. Essa festa de evocação e reverência era realizada no pátio da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, na Rua Estreita do Rosário. Em 1965, por iniciativa do sociólogo e jornalista Paulo Viana (1922/1987), foi criada a Noite dos Tambores Silenciosos.

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Uma das rainhas se preparando para o grande momento (Foto: Wagner Ramos)

A primeira Noite dos Tambores Silenciosos, tivemos a leitura do poema Lamento Negro por Paulo Viana, no Pátio da Igreja de Nossa Senhora do Terço ou Pátio do Terço como é mais conhecido, no bairro de São José, musicada pelo compositor João Santiago, em memória dos escravos que nunca tiveram direito de brincar o carnaval, motivo pelo qual o evento era sempre realizado nessa época. Atualmente o ritual é destaque no nosso carnaval. A cerimônia começa com a apresentação dos maracatus de baque-virado, que são considerados nações africanas.

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O grande momento de reverencia Nossa Senhora (Foto: Wagner Ramos)

O tambor que tem lugar de destaque nesse evento é o principal instrumento da orquestra dos xangôs e tem uma função mágica nas religiões africanas. À meia-noite as luzes do pátio são apagadas e o público silencia. Tochas são acesas e levadas até a porta da Igreja pelos líderes dos maracatus. E com certeza Dona Santa (1877/1962), Rainha do Maracatu Elefante e de todos os maracatus, chega imponentemente para sentir o lamento dos seus seguidores.

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Eis hora das orações e da lamentação (Foto: Wagner Ramos)

Uma voz entoa loas em louvor a Rainha dos negros, Nossa Senhora do Rosário. O silêncio é interrompido apenas pela batida intermitente dos tambores de todas as nações de maracatus, que entoam cânticos de Xangô. A marcha dos dançarinos é marcada pela batida de tambores. Estandartes trazem o nome dos maracatus e são seguidos por uma corte de reis e rainhas africanas devidamente caracterizadas. Nesse momento, o babalorixá os batuques e rege um coro de mães-de-santo que rezam com ele, e termina o culto abençoando os membros dos maracatus e o público.

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