Fernando Machado

Parabéns, Bloco da Saudade!

Isabel Bezerra e o marido Amílcar Barbosa (Foto: Fernando Machado)

Uma chuvinha ameaçava cair, no inicio da tarde de segunda-feira,  e os 22 pastores e 128 pastoras estavam chegando para a concentração, no átrio da Matriz da Boa Vista, no final da Rua da Imperatriz, pois às 16h o Bloco da Saudade, cuja presidente é notável Isabel Bezerra, que está completando 45 anos, tinha que partir até o Marco Zero, para o encontro dos blocos. Antes, nos arredores da Praça Maciel Pinheiro, os pastores do bloco e seus perseguidores começavam a chegar. Chuviscou mas não choveu, afinal de contas São Pedro gosta do lirismo dos nossos blocos.

Os destaques Girlane Arraes e Letícia Amorim (Foto: Fernando Machado)

Então começou a procissão com destino ao Marco Zero, via Rua da Imperatriz. Tão diferente de tudo quando começou pois a Prefeitura do Recife decorava aquela rua, assim como a Rua Nova. Esse era o trecho do Bloco da Saudade e encerrava na Praça da Independência, ou como era mais conhecida, Pracinha do Diário, chamada de QG do Frevo. Há 45 anos, o Bloco da Saudade se concentrava no Cordeiro. O hino do Bloco da Saudade foi composto por Edgard Moraes, como o nome Valores do Passado. E é exatamente com esta canção que o Saudade surge na Imperatriz.

A pastora Claudia Porpino Cabral (Foto: Fernando Machado)

Os fundadores do Bloco, Edgard Moraes, Antonio José Medeiros e Marcelo Varela, devem felizes e devem ter cantado também “Bloco das Flores, Andaluzas, Cartomantes/Camponeses, Apôis Fum e o Bloco Um Dia Só/Os Corações Futuristas, Bobos em Folia/Pirilampos de Tejipió/A Flor da Magnólia/Lira do Charmion, Sem Rival/Jacarandá, a Madeira da Fé/Crisântemos Se Tem Bote e Um Dia de Carnaval /Pavão Dourado, Camelo de Ouro e Bebé/Os Queridos Batutas da Boa Vista/E os Turunas de São José/Príncipe dos Príncipes brilhou/Lira da Noite também vibrou/E o Bloco da Saudade, assim recorda tudo que passou”.

A flabelista  Barbara Rodrigues (Foto: Fernando Machado)

E diante do prédio onde morou Joaquim Nabuco, o Bloco ressuscitou Nelson Ferreira cantou “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon/Cadê teus blocos famosos/Bloco das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apos-Fum/Dos carnavais saudosos/Na alta madrugada/O coro entoava/Do bloco a marcha-regresso/E era o sucesso dos tempos ideais/Do velho Raul Moraes/Adeus adeus minha gente/Que já cantamos bastante/E Recife adormecia/Ficava a sonhar/Ao som da triste melodia”. Até chegarmos a Ponte Mauricio de Nassau pude ouvir Relembrando o Passado de João Santiago: “Vou relembrar o passado/Do meu carnaval de fervor/Neste Recife afamado/De blocos forjados/De cor e esplendor/Na rua da Imperatriz/Eu era muito feliz,/Vendo o bloco desfilar/Escuta Apolônio o que eu vou relembrar/Os Camponeses, Camelo e Pavão/Bobos em Folia do Sebastião/Também Flor da Lira com seus violões/Impressionava com suas canções”.

Getúlio Cavalcanti na última aparição em blocos (Foto: Fernando Machado)

E o numero de seguidores continuava crescendo. Na sequencia acordaram Capiba e entoaram, Madeira que Capim não Rói: “Madeira do Rosarinho/Vem a cidade sua fama mostrar/E traz com seu pessoal/Seu estandarte tão original/Não vem pra fazer barulho/ Vem só dizer… e com satisfação/Queiram ou não queiram os juízes/O nosso bloco é de fato campeão/E se aqui estamos, cantando esta canção/Viemos defender a nossa tradição/E dizer bem alto que a injustiça dói/Nós somos madeira de lei que cupim não rói”. Mas nem tudo era alegria, o toque de tristeza foi a decisão do cantor e compositor Getulio Cavalcanti, sair pela última fez no Bloco da Saudade.

Marcia Lins, Iago Amaral e Mônica Araujo (Foto: Fernando Machado)

Por coincidência pude ouvir de Getulio o Último Regresso: “Falam tanto que meu bloco está,/dando adeus pra nunca mais sair./E depois que ele desfilar,do seu povo vai se despedir./Do regresso de não mais voltar,/suas pastoras vão pedir:/Não deixem não, que o bloco campeão,/guarde no peito a dor de não cantar./Um bloco a mais é um sonho que se faz/o pastoril da vida singular./É lindo ver o dia amanhecer,/ouvir ao longe pastorinhas mil,/dizendo bem, que o Recife tem,/o carnaval melhor do meu Brasil”.

A presidente Isabel Bezerra e o carnavalesco Carlos Ivan de Melo diante do boi (Foto: Fernando Machado)

A fantasia do Bloco da Saudade, como sempre estava linda. O tema foi Recife, do Frevo e do Maracatu. O carnavalesco Carlos Ivan, desenhou a blusa das pastoras remetendo ao Forte de Cinco Pontas, as mangas mostrava o romantismo do século XIX e a saia estampava uma bandeira do Recife. A gargantilha no pescoço das pastoras uma gargantilha de arrecifes feitas de corais.Tinha três destaques: A arte Sacra do Recife foi usada por Girlane Arraes, o Frevo usado por Leticia Mendonça e o Boi Voador carregado por Julio Cesar Soares.

O jornalista e pastor Marjones Pinheiro (Foto: Fernando Machado)

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